POÇOS ARTESIANOS NO SEMIÁRIDO NÃO FUNCIONAM

Manoel Belarmino


 

O Alto Sertão Sergipano está cheio de carcaças de estruturas de poços artesianos que nunca funcionaram. Em Poço Redondo, são mais de 60 poços artesianos perfurados nos últimos anos pelos órgãos governamentais, como Cohidro e outros, com dinheiro público, e somente 1 funciona de forma precária no quilombo Serra da Guia, mas os governos continuam na insistência da instalação desses equipamentos inadequados para nossa região.

O semiárido é cheio de diversidade. Desde a diversidade biológica à cultural. Também há uma diversidade na forma das "quadas" das chuvas. Agora uma coisa é certa: não há muita diversidade no tipo de subsolo. Na geologia, o semiárido brasileiro é formado basicamente de arenito, aluvião, calcário e rocha cristalina. No nosso Estado de Sergipe os subsolos são formados de arenito na faixa litorânea e as demais regiões de rochas cristalinas. No subsolo de rocha cristalina não se encontra água. Com exceção de algumas poucas fendas pequenas e com águas salinizadas.


É altíssimo o custo da perfuração, da instalação e da manutenção dos dessalinizadores de um poço artesiano no semiárido. E, ainda, além de ser caro, não tem água suficiente. Somente em um pequeno trecho da região norte do município de Canindé de São Francisco, onde existe uma pequena fenda, pode se encontrar água suficiente para justificar as despesas de um poço.

Todos os geólogos sabem que no subsolo do embasamento cristalino não tem água suficiente para o uso. Mas os governos e seus técnicos insistem em gastar dinheiro tentando buscar água onde não tem. E o rio São Francisco margeando todo o semiárido sergipano, o Lago de Xingó bem ali, abarrotado d’água doce, e as águas das chuvas se perdendo para os riachos a grandes quantidades por falta de estruturas adequadas para a captação e o armazenamento.

Se no subsolo do semiárido tivesse muita água, o governo não faria a transposição das águas do Rio São Francisco para o Ceará e outros estados de lá. Bastaria perfurar poços artesianos. 

Se a população tivesse acesso aos custos de um poço artesiano, certamente veria que é mais em conta os governos canalizarem água do rio São Francisco e implantar tecnologias de captação e armazenamento de água das chuvas.

Mas na contramão o governo teima em continuar gastando dinheiro na perfuração de poços artesianos no semiárido.

Há uma preguiça técnica e política na formulação de uma política pública de acesso a água no semiárido. Basta ver os programas dos candidatos a governador nas eleições passadas de 2022. Nenhum propôs nos seus planos de governo, registrados na Justiça Eleitoral, uma política de acesso a água adequada para o semiárido. Enquanto isso, vai eleição e vem eleição e a problemática do acesso a água continua. Comunidades inteiras com os canos e torneiras da DESO sem uma gota de água por 15, 20 dias, meses... Comunidades dependentes o tempo todo dos carros pipas da prefeitura, da Defesa Civil ou do Exercito Brasileiro. Nenhuma estrutura de barragem; as estruturas da Deso estão há anos precárias e defasadas.

Os prefeitos e prefeitas do semiárido adoram a política dos caminhões pipas. É um instrumento de “ganhar votos fácil” a cada quatro anos.

Ter água de beber na torneira de forma regular é um direito humano, que dá autonomia hídrica às famílias sertanejas e autonomia política ao cidadão do semiárido.

Parece que os governos que já passaram e o que está, todos, desconhecem o semiárido ou comungam com a indústria das secas.

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