AS RAÍZES DOS PROBLEMAS DO SEMIÁRIDO


Manoel Belarmino

Enquanto os homens e as mulheres continuarem se contentando com o enxergar apenas a superfície, o lixo e a podridão continuam no fundo do poço, alimentando e fortalecendo as raízes dos principais problemas do povo. Há uma preguiça política dos políticos e da sociedade na construção das políticas públicas. Poucos são os que se atrevem a questionar, discutir e propor ações e políticas de erradicação das raízes dos principais problemas do povo. Maquiou a superfície, aí já está tudo bem. Políticas de “paliativamento” ou de "sepulcros caiados".

Podemos citar, por exemplo, as políticas de “arremediamento” dos problemas de acesso à água no semiárido com carros pipas do Exército e da Defesa Civil, quando se poderia construir estruturas com tecnologias eficientes e adequadas de captação e armazenamento de água das chuvas e do Rio São Francisco, recuperação de olhos d’água d'água, e as políticas de distribuição de sementes, quando se poderia investir em bancos de sementes, etc.

Como explicar que municípios como Poço Redondo, Porto da Folha e Canindé de São Francisco tenham problemas graves de acesso água, se estes municípios estão banhados pelo Rio São Francisco? Poço Redondo, por exemplo, continua em decreto de emergência permanentemente nas localidades onde não tem canos da DESO e onde tem os canos da DESO, comunidades inteiras ficam mais de 25 dias sem água nas torneiras como é o caso do Assentamento Dom José Brandão de Castro. No ano passado, de 2017, mesmo com uma precipitação razoável os caminhões pipas da Operação Pipa do Exercito Brasileiro continuaram em atividade durante todo o ano. E este ano de 2018, que não houve trocadas e não choveu no inverno, os caminhões pipas de emergência continuaram. Os caminhões são necessários, mas também é urgente uma reestruturação e ampliação das adutoras que distribuem água no sertão de Sergipe e mais urgente ainda é a aplicação de tecnologias de captação e armazenamento de água nas comunidades.

Os governos Federal e Estadual não priorizam a destinação dos seus recursos para uma política estruturante de acesso justo aos recursos hídricos. As prefeituras se viram como podem, visto que os recursos dos municípios são suficientes apenas para o pagamento da folha dos servidores e para alguns carros pipas quando a situação de escassez de água piora.

A raiz desse problema está na cultura e na tradição política coronelista de que, para a maioria dos governantes, as populações do semiárido nordestino não são prioritárias para as políticas publicas decentes. Os governantes acham que bastam as cestas de alimentos de comida ruim, basta os carros pipas do Exercito Brasileiro e um discurso de político corrupto tá tudo bem, tá todo mundo conformado.

Foi fácil aterrissar uma nave na Lua há anos, foi fácil descobrir que em Marte tem água e foi fácil levar água para o Sertão do Ceará através da Transposição a centena de quilômetros de distância, mas nas comunidades que estão perto do rio São Francisco não chega água encanada.

E a indústria das secas continua.



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