UM GRITO NO DESERTO DE GENTE MOUCA
Manoel
Belarmino
"Eu
sou a voz que clama no deserto..." Esta frase foi proferida por João
Batista, o profeta, o eremita, e está escrito na Bíblia Sagrada, mais
precisamente no Livro de João (João 1,2-28).
Se
trouxermos essa palavra profética do mestre João Batista para a nossa realidade
atual, clamar por políticas públicas decentes e eficientes, simples, e de
resultados, é gritar sozinho. É gritar no deserto. Dizer e mostrar na prática
que é possível construir politicas públicas de convivência no semiárido também,
às vezes, é gritar sozinho no deserto.
Há
uma preguiça política e técnica quando a questão é políticas públicas. Dizer e
mostrar tecnicamente que é possível. Dizer que somente um modelo de educação
contextualizada, de convivência com o semiárido, libertadora e emancipadora,
que forme cidadãos pensantes e críticos, poderá contribuir para a boa
convivência e para a autossustentação no semiárido, é gritar sozinho. É nunca
ser ouvido. Ainda hoje existe alguns João Batista que gritam no deserto dos
tempos atuais, e que muitos, que deveriam ouvir, mesmo tendo ouvidos, não
ouvem. São técnica e politicamente moucos.
Ah!
Desculpem! Esqueci-me de fazer uma observação. Há também os que escrevem,
escrevem, escrevem... No deserto de leitores, ou melhor, no deserto de muitos
que têm olhos, mas não leem. São letrados, mas não leem nada.
Eu,
às vezes, me sinto, não um João Batista, mas uma voz que grita nesse deserto
repleto de gente letrada e de ouvidos sãos.
Está
no tempo de unirmos os sonhos, unirmos as vozes, unirmos os escritos, unirmos
as forças para construirmos um projeto político com técnica, com valores
humanos e coletivo.
O
tempo chegou.
Mesmo
no deserto...
No
deserto da fé
No
deserto das ideias
No
deserto de compromissos
No
deserto de projetos.
Há
sempre um sorriso
Um
sorriso de despojamento.
Um
sorriso de quem tem a capacidade radical de abdicar dos privilégios.
Um
sorriso sem ambição.
Mesmo
no deserto de gente mouca de ouvidos sãos
Há
ainda um grito e um sorriso de fé e de esperança.
"Quem
tem ouvidos ouça". Já é tempo de ouvir, não só com as "oiças",
mas com os ouvidos da consciência.
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