SILVA LIMA E O INFORMATIVO CINZANO NA HISTÓRIA DO RÁDIO SERGIPANO
Manoel
Belarmino*
Marcou a história do rádio sergipano, o baiano Silva Lima. Lembro-me, que, na década de 1970, eu ainda era criança e estudava numa escolinha do interior, nos cafundós do Boqueirão, no sopé da Serra Negra, entre os municípios e Poço Redondo (SE) e Pedro Alexandre (BA), quando começava o Programa Informativo Cinzano, na Rádio Difusora de Aracaju (Hoje Aperipê), com aquela voz marcante do Silva Lima, eu já sabia que era a hora de ir para a escola, já passava do meio dia. Com uma cartilha do ABC, um caderninho de poucas folhas, um lápis e uma borracha “apaga borrão”, numa mochila, eu ia à escola, depois de ouvir as primeiras notícias na voz característica e inesquecível do radialista.
José da Silva Lima, o Silva
Lima, era baiano, nascido em Salvador. Chegou a Sergipe com 18 anos de idade.
Sabia um pouco a língua inglesa; logo se tornou professor de inglês na Escola
Normal Ruy Barbosa em Aracaju. Chegou a ser representante da Revista do Rádio.
Ingressou no rádio em 1950.
No rádio, Silva Lima fazia
de tudo. Programas musicais, esportivos, policiais, radiojornalismo; apresentador
extraordinário e bom entrevistador. Um dos radialistas mais dinâmico já visto
na história do rádio no Brasil. Criativo melhor que ele, nunca houve no rádio.
Naqueles tempos, na década
de 1970, na altura dos meus oito anos, o rádio e os folhetos de cordéis, nos
cafundós do alto sertão de sergipano, eram esses, e somente esses, os meios de
comunicação que adentravam as caatingas levando notícias. Telefone, jornal,
telégrafo, televisor, revista, eram “bichos estranhos” nos sertões. O radio e
os folhetos contagiavam e encantavam as pessoas. Eu era desde menino, e
continuo sendo, um apaixonado pelo rádio e pelos folhetos de cordel. Minha
paixão era, e ainda é, tão grande pelo rádio e pela comunicação escrita, que,
mesmo sem ter a oportunidade de estudar como desejava, tornei-me um poeta-cordelista
e um metido a escrever como jornalista.
Em Sergipe, as rádios surgiram da necessidade dos políticos. A Rádio Difusora, por exemplo, surgiu em 1939, no governo de Eronildes de Carvalho (PSD), com o objetivo de divulgar as ações do governo. A Difusora era uma emissora estatal. Depois, em 1953, surge a Rádio Liberdade, ligada à UDN. Mais adiante, em 1958, surgiu a Rádio Jornal, de propriedade do pessoal do PSD. Silva Lima passou pelas duas primeiras emissoras, a Rádio Difusora e a Rádio Liberdade de Aracaju. Houve uma época, em que o PSD estava no poder, e Silva Lima comandava a equipe esportiva da Rádio Liberdade, de propriedade dos políticos da UDN, e a Rádio Liberdade foi proibida pelo PSD, que comandava o Governo do estado, de entrar no Estádio Estadual para transmitir uma importante partida de futebol. E Silva Lima, criativo e esperto, decidiu subir nos telhados das residências da Vila Cristina, em Aracaju, próximas do estádio, para fazer a transmissão da partida de futebol. E assim toda a partida de futebol foi transmitida ao vivo.
Segundo historiadores, Silva
Lima narrava até casamentos. Pelo menos, um ele o fez. Foi o casamento de Aerton
Menezes Silva, filho de Albino Silva Fonseca, dono da Rádio Liberdade. Precisa-se
dizer que Aerton Menezes Silva casou quatro vezes. E o casamento que foi
narrado por Silva Lima, transmitido pela Rádio Liberdade, foi o primeiro,
quando Aerton casou com Marta Cruz, filha do professor Acrísio Cruz.
Silva Lima gostava de teatro, de bons filmes, de blues, jazz...
Na política, Silva Lima
chegou a ser eleito vereador, mas apesar de se envolver na política partidária,
ligado à UDN, nunca teve o mandato como prioridade. Homem de microfones, sua
voz pouco foi ouvida na Câmara de Vereadores. E as Atas do Poder legislativo
Municipal de Aracaju registram as suas tantas ausências nas reuniões. Silva
Lima priorizava o rádio.
Os programas radiofônicos, Informativo Cinzano de Silva Lima e Calendário de Santos Mendonça, na Rádio
Liberdade, faziam sucesso, mas também os programas de auditório, como shows de
calouros, acompanhados por majestosas bandas e artistas da terra como, por
exemplo, Antônio Teles, Vilermando Orico e também artistas nacionais como Ângela
Maria. Havia também as radionovelas. Sucesso absoluto.
Silva Lima faleceu no
domingo de carnaval do ano de 1983.
Silva Lima, o homem que queria ver “a princesa nua” nas suas fantásticas narrações esportivas.
*Manoel Belarmino dos Santos - Jornalista - Registro Profissional (DRT) nº 2678/SE
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