As raízes da violência e a indústria do tráfico

Por Manoel Belarmino

O modelo de sociedade em que vivemos se sustenta na espoliação e na exploração violenta da mais-valia do trabalho, além da exclusão impiedosa de grande parte da população — nas cidades e no campo. Entre o capital e o trabalho está o verdadeiro conflito. É nesse ponto que se enraíza a luta de classes, marcada pela dominação permanente dos donos do poder. Essa desigualdade, presente desde o início da história da humanidade, é o solo fértil onde germina a violência que se espalha por todos os campos da vida social.

As raízes da violência fincam-se na cultura, na religião, na educação e na política.

Na cultura

A violência se expressa quando os governos desprezam e até condenam a cultura popular, seja nas comunidades rurais, seja nas urbanas. Por meio de suas grandes estruturas de comunicação e poder, excluem os valores das comunidades e impõem uma cultura de massa e de dominação. Quando não há estímulo à cultura do povo, o que prospera é a cultura da barbárie.

Na religião

A violência também se revela quando se folcloriza a piedade popular, manipulando os sentimentos religiosos do povo. Quando o Estado e parte das elites religiosas não reconhecem — e, por vezes, criminalizam — as religiões populares, minam um dos pilares simbólicos da identidade das classes trabalhadoras.

Na educação

A exclusão educacional é outra forma de violência estrutural. Mais de 35% da população brasileira é totalmente analfabeta, e quase metade é analfabeta funcional. A violência se aprofunda quando professores e professoras são desvalorizados, recebem salários indignos e trabalham em escolas precárias. Some-se a isso o cenário em que estudantes precisam se “aprisionar” em escolas cercadas de muros e grades — símbolos de medo, não de proteção.

Na política

A raiz política da violência é talvez a mais profunda. Ela cresce quando sindicatos se tornam pelegos, cooptados ou esvaziados de suas funções originais; quando partidos políticos agem como meros cartéis de votos, voltados a interesses privados; quando a corrupção desvia recursos da educação, da saúde e da assistência social.

A violência é fortalecida quando governos alimentam a ganância e a concentração de renda, e quando criminalizam movimentos sociais legítimos. A brutalidade se intensifica ainda mais quando forças policiais invadem favelas com tanques e fuzis, mas nada fazem para conter os grandes chefes do tráfico de armas e drogas — que seguem circulando livremente, de aeroporto a aeroporto, em jatos de luxo.

A indústria do tráfico

A chamada “indústria da droguização” das comunidades pobres, abandonadas pelo poder público, movimenta milhões de reais e dólares no Brasil e mata milhares de jovens todos os anos. Mas os verdadeiros comandantes desse império não estão nos morros. Estão nas mansões luxuosas das grandes cidades.

Os mesmos que lucram com o tráfico de drogas são também os que controlam o tráfico de armas. Nas favelas, restam os atravessadores, os dependentes e as populações reféns — os chamados criminosos de “quinta categoria”. Todos, em última instância, são também vítimas de um sistema que os exclui.

Mesmo que o Estado eliminasse todos os pequenos traficantes e usuários, em poucos meses a “célula pensante” da indústria do tráfico voltaria a produzir novos atravessadores e novos consumidores. A engrenagem se mantém porque o motor que a alimenta — o lucro e a desigualdade — permanece intacto.

Conclusão

Como enfrentar a violência sem políticas públicas que, na prática, ataquem suas verdadeiras raízes? É impossível. Enquanto a estrutura econômica e política continuar a produzir exclusão, injustiça e impunidade, a violência seguirá sendo apenas o sintoma visível de um mal muito mais profundo.

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