“SERÁS LIBERTADO PELO DIREITO E PELA JUSTIÇA” (Is 1,27)
O
site IHU- Unisinos publicou, nesta terça-feira, 23, um artigo sobre a Campanha da Fraternidade de 2019 de Rui Antônio de
Souza. Rui é graduado em Filosofia e Teologia, mestre em Comunicação Social e com
especialização em Bioética. Membro do Laboratório de Políticas Públicas de
Porto Alegre (LAPPUS). Escreve Rui: “Com o lema “serás libertado pelo direito e
pela justiça” (Is 1,27), a CF 2019 visa aprofundar o que são as Políticas
Públicas enquanto garantidoras de direitos. São muitos os problemas e desafios
da sociedade atual. É preciso olhar, sobretudo, para a realidade das pessoas
que mais sofrem as consequências de um sistema que impede a vida com
dignidade". E eu republico aqui no nosso Blog Circulo de Notícias.
EIS
O ARTIGO
Arrisco
dizer que a Campanha da Fraternidade 2019 pode ser chamada “a campanha das
campanhas”. O motivo é o tema, “Políticas Públicas”, muito bem escolhido pelos
bispos, ainda mais se considerarmos o contexto social, econômico e político que
estamos vivendo em nosso país.
Antes
de abordar Políticas Públicas é bom reforçar aquilo que já foi dito pelo Papa
Paulo VI, atualizado pelo Papa Francisco e que está bem expresso na Doutrina
Social da Igreja: “a política é a melhor forma de fazer caridade”. Pois é
somente através da política que se universalizam os bens, os serviços e que se
promove a equidade. Por isso, das nossas decisões políticas depende o futuro de
milhões de pessoas que terão acesso ou não à condições dignas de vida.
As
Políticas Públicas são um direito da cidadania e servem para garantir os
direitos fundamentais à saúde, educação, moradia, trabalho, cultura, lazer,
acesso às tecnologias, preservação do meio ambiente, entre outros. E falar de
Políticas Públicas é justamente falar de uma forma de ação do Estado, desde a
elaboração, execução, participação popular até a avaliação, num percurso que
dificulta a corrupção e a politicagem, além de permitir que se chegue a
resultados concretos e que mudam a vida das pessoas. É diferente de serviços
públicos, pois estes são a tarefa diária das administrações públicas na
manutenção de serviços sanitários, saneamento, pavimentação, transportes,
escolas, etc.
As
Políticas Públicas tem em vista garantir a eficiência dos investimentos na
resolução de problemas sociais e coletivos, superando o debate político tão
somente ideológico e pouco atento aos efeitos e às consequências reais da
realização ou não das ações do Estado em favor da população.
Com
o lema “serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), a CF 2019 visa
aprofundar o que são as Políticas Públicas enquanto garantidoras de direitos.
São muitos os problemas e desafios da sociedade atual. É preciso olhar
sobretudo para a realidade das pessoas que mais sofrem as consequências de um
sistema que impede a vida com dignidade. Muitos ainda enfrentam problemas dos
direitos básicos, como saneamento, habitação, alimento, saúde, emprego e
educação.
Desde
1964, a CNBB propõe um tema relevante para a sociedade brasileira refletir e
engajar-se durante a Campanha da Fraternidade. O método ver, julgar, agir
conduz a uma prática transformadora diante das situações de injustiça e de
agressão à vida. Aqui, podemos perceber algo em comum e que faz desta “a
campanha das campanhas”. Ou seja, tanto as Políticas Públicas como a Campanha
da Fraternidade – com o método ver, julgar, agir – exigem que o resultado sejam
ações transformadoras da realidade.
Oriundo
da Ação Católica, esse método foi criado pelo Cardeal Josef Cardijn, na década
de 1950, na Bélgica, onde exercia seu ministério pastoral entre os
trabalhadores. E foi reconhecido oficialmente pelo Papa João XXIII na Encíclica
Mater Et Magistra, em maio de 1961. O método propõe os seguintes passos:
Ver:
estudo da realidade. Especial atenção é dada, neste olhar, para as pessoas e
famílias mais necessitadas e excluídas da sociedade. Para escolher as Políticas
Públicas a serem implementadas, as administrações precisam fazer escolhas,
preferencialmente com a participação popular, definindo os problemas mais
urgentes e que afetam a qualidade de vida da população.
Julgar:
análise e julgamento a partir de alguns referenciais, especialmente da Palavra
de Deus e da Doutrina Social da Igreja, servindo como luz que ilumina nossas
ações. Outros instrumentos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
Carta da Terra, a Constituição Cidadã, também são importantes para que os
cristãos possam enxergar a sociedade como um todo e não apenas os que
participam da vida eclesial.
Agir:
são as considerações sobre as perspectivas pedagógicas e comportamentais que se
abrem, com vistas a uma ação social transformadora. No caso das Políticas
Públicas, significa propor às administrações públicas, políticas que busquem
transformar as situações mais gritantes de injustiça e que causam sofrimento às
pessoas, famílias e comunidades do município, estado ou país.
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