OS PADRES CATÓLICOS E AS ELEIÇÕES DE 2024

Manoel Belarmino

Os bispos das três dioceses que estão no território do Estado de Sergipe e que compõem a Província Eclesiástica de Aracaju apresentaram, no último dia 20 de agosto, a posição da Igreja Católica sobre as eleições municipais deste ano. Os pastores católicos, Dom Josafá Menezes (Arcebispo Metropolitano de Aracaju), Genivaldo Garcia (Bispo de Estância),  e Dom Vitor Agnaldo (Bispo de Propriá) comunicam que a Igreja não pode indicar candidatos de jeito nenhum, mas precisa oferecer critérios cristãos e humanos, respeitando a consciência de cada pessoa, para que façam uma escolha consciente, serena e livre. Igreja Católica, por meio de seus bispos e padres, afirma que é contra o uso político da religião.


Eis a Mensagem ao povo de Deus da Província Eclesiástica de Aracaju sobre as Eleições Municipais 2024 na íntegra:

Caríssimos irmãos e irmãs, senhoras e senhores, homens e mulheres de boa vontade das paróquias da Igreja Católica que compõem o Estado de Sergipe.

“A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política, nem deve pôr-se no lugar do Estado. Mas também não pode e não deve ficar à margem na luta política. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá firmar-se nem prosperar” (Bento XVI, Deus Caritas est, n. 28).

Com essas palavras, em comunhão com a mensagem do Regional Nordeste 3, Bahia e Sergipe, datada de 16 de agosto de 2024, apresentamos mais algumas considerações a respeito de nossa participação no processo eleitoral que conduz às eleições municipais de 2024, quando serão votados os candidatos que pleiteiam eleição e reeleição para o Legislativo e Executivo nos municípios que compõem a Província Eclesiástica sergipana.

Nas eleições deste ano, está em jogo o direito do cidadão de eleger os representantes que cuidarão da administração local, onde as políticas públicas têm a sua aplicação mais concreta e os seus benefícios podem tocar profundamente a realidade de cada município. Como cidadão, o fiel católico, deve ser o primeiro interessado na promoção do bem de sua cidade, habilitando-se como candidato ao pleito eleitoral e votando de maneira consciente e responsável, escolhendo entre os candidatos os mais idôneos e competentes.

A Igreja Católica, através do Código de Direito Canônico, do seu ensinamento social nas Encíclicas, Exortações apostólicas e outros pronunciamentos dos Papas, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e dos Regionais, bem como das orientações dos bispos em suas igrejas particulares, possui um conjunto de princípios e normativas que poderá se constituir um subsídio capaz de contribuir com as outras forças sociais no debate para edificação do bem comum e no crescimento do processo democrático.

Portanto, nesta campanha eleitoral, a nossa Província Eclesiástica procurará manter uma postura coerente com as disposições da Doutrina Social e com as regras da Justiça Eleitoral do Brasil. Trabalharemos para conscientização dos eleitores e dos líderes das nossas comunidades, refletindo os princípios da ‘Política Melhor’ (cf. Fratelli Tutti, n. 176-197), sem que para isso precise transformar os ambientes eclesiais em palanques eleitorais, desviando os nossos templos e demais espaços comunitários espalhados pelo território dos municípios. Inclusive, é vedada por legislação civil propaganda eleitoral ilícita de qualquer candidato nos chamados bens de uso comum, mesmo daqueles que são mais próximos do nosso horizonte de valores e de nossas opções socais.

Obviamente vemos com bons olhos que lideranças imbuídas de princípios éticos, valores democráticos e conduta comprovadamente voltada para a coletividade, apresentem candidaturas, fortalecendo a perspectiva indicada pelo Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti. Todavia, carece lembrarmos que a Igreja não tem candidato nem partido próprio, uma vez que a manipulação política da religião não é benéfica para o convívio democrático. Por isso, a equilibrada relação entre a Igreja e a Política contribui com a harmonia social e democrática.

Padres e Bispos são também cidadãos civis e têm direito e o dever de escolher e votar de formar consciente nas pessoas que julgam aptas a exercerem funções de poder civil. Recordamos, porém, a restrição da participação na “política”, entendendo seja assunção de cargos públicos (Cân. 285§3), seja militância concreta em partidos e agremiações (287§2).

Cumprindo o nosso dever pastoral, trabalharemos para que o processo eleitoral em toda a nossa região seja digno da grandeza ética de nossas populações e menos condicionado pelos muitos vícios e comportamentos inadequados, cujo histórico nunca desapareceu das eleições de um país de extensão continental e de enormes desigualdades sociais. Exemplo disso é o clientelismo que possibilita a compra e venda de votos por meio de promessa e fornecimento de material de construção, marcação de consultas, exames, cirurgias, cestas básicas, patrocínio de festas, material esportivo para jovens, promessa de empregos, dinheiro em espécie e outros.

Trabalhar por eleições cidadãs é dever das autoridades eleitorais, mas também de toda a sociedade civil, especialmente das entidades e organizações que têm responsabilidade com a construção de uma sociedade justa, solidária e fraterna.

Aracaju, 20 de agosto de 2024
Memória de São Bernardo, Abade e Doutor da Igreja

Dom Josafá Menezes da Silva
Arcebispo Metropolitano de Aracaju

Dom Vitor Agnaldo de Menezes
Bispo Diocesano de Propriá

Dom José Genivaldo Garcia
Bispo Diocesano de Estância

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO E MORTE DE POÇO-REDONDENSE NO MARANHÃO DEVEM SER INVESTIGADOS PELA POLÍCIA FEDERAL

SUPOSTOS ASSASSINOS DE TOINHO DE IRACEMA SÃO PRESOS

FILÓ SE DESPEDIU