OS PADRES CATÓLICOS E AS ELEIÇÕES DE 2024
Os bispos
das três dioceses que estão no território do Estado de Sergipe e que compõem a
Província Eclesiástica de Aracaju apresentaram, no último dia 20 de agosto, a posição da Igreja Católica sobre as eleições municipais deste ano. Os pastores
católicos, Dom Josafá Menezes (Arcebispo Metropolitano de Aracaju), Genivaldo
Garcia (Bispo de Estância), e Dom Vitor
Agnaldo (Bispo de Propriá) comunicam que a Igreja não pode indicar candidatos
de jeito nenhum, mas precisa oferecer critérios cristãos e humanos, respeitando
a consciência de cada pessoa, para que façam uma escolha consciente, serena e
livre. Igreja Católica, por meio de seus bispos e padres, afirma que é contra o
uso político da religião.
Eis a Mensagem ao povo de Deus da Província Eclesiástica de Aracaju sobre as Eleições Municipais 2024 na íntegra:
Caríssimos irmãos e irmãs, senhoras e senhores, homens e mulheres
de boa vontade das paróquias da Igreja Católica que compõem o Estado de
Sergipe.
“A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha
política, nem deve pôr-se no lugar do Estado. Mas também não pode e não deve
ficar à margem na luta política. Deve inserir-se nela pela via da argumentação
racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que
sempre requer renúncias também, não poderá firmar-se nem prosperar” (Bento XVI,
Deus Caritas est, n. 28).
Com essas palavras, em comunhão com a mensagem do Regional
Nordeste 3, Bahia e Sergipe, datada de 16 de agosto de 2024, apresentamos mais
algumas considerações a respeito de nossa participação no processo eleitoral
que conduz às eleições municipais de 2024, quando serão votados os candidatos
que pleiteiam eleição e reeleição para o Legislativo e Executivo nos municípios
que compõem a Província Eclesiástica sergipana.
Nas eleições deste ano, está em jogo o direito do cidadão de
eleger os representantes que cuidarão da administração local, onde as políticas
públicas têm a sua aplicação mais concreta e os seus benefícios podem tocar
profundamente a realidade de cada município. Como cidadão, o fiel católico,
deve ser o primeiro interessado na promoção do bem de sua cidade,
habilitando-se como candidato ao pleito eleitoral e votando de maneira
consciente e responsável, escolhendo entre os candidatos os mais idôneos e competentes.
A Igreja Católica, através do
Código de Direito Canônico, do seu ensinamento social nas Encíclicas,
Exortações apostólicas e outros pronunciamentos dos Papas, da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil e dos Regionais, bem como das orientações dos
bispos em suas igrejas particulares, possui um conjunto de princípios e
normativas que poderá se constituir um subsídio capaz de contribuir com as
outras forças sociais no debate para edificação do bem comum e no crescimento
do processo democrático.
Portanto, nesta campanha eleitoral, a nossa Província Eclesiástica
procurará manter uma postura coerente com as disposições da Doutrina Social e
com as regras da Justiça Eleitoral do Brasil. Trabalharemos para
conscientização dos eleitores e dos líderes das nossas comunidades, refletindo
os princípios da ‘Política Melhor’ (cf. Fratelli Tutti, n. 176-197), sem que
para isso precise transformar os ambientes eclesiais em palanques eleitorais,
desviando os nossos templos e demais espaços comunitários espalhados pelo
território dos municípios. Inclusive, é vedada por legislação civil propaganda
eleitoral ilícita de qualquer candidato nos chamados bens de uso comum, mesmo
daqueles que são mais próximos do nosso horizonte de valores e de nossas opções
socais.
Obviamente vemos com bons olhos que lideranças imbuídas de
princípios éticos, valores democráticos e conduta comprovadamente voltada para
a coletividade, apresentem candidaturas, fortalecendo a perspectiva indicada
pelo Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti. Todavia, carece lembrarmos que
a Igreja não tem candidato nem partido próprio, uma vez que a manipulação
política da religião não é benéfica para o convívio democrático. Por isso, a
equilibrada relação entre a Igreja e a Política contribui com a harmonia social
e democrática.
Padres e Bispos são também cidadãos civis e têm direito e o dever
de escolher e votar de formar consciente nas pessoas que julgam aptas a
exercerem funções de poder civil. Recordamos, porém, a restrição da
participação na “política”, entendendo seja assunção de cargos públicos (Cân.
285§3), seja militância concreta em partidos e agremiações (287§2).
Cumprindo o nosso dever pastoral, trabalharemos para que o
processo eleitoral em toda a nossa região seja digno da grandeza ética de
nossas populações e menos condicionado pelos muitos vícios e comportamentos
inadequados, cujo histórico nunca desapareceu das eleições de um país de
extensão continental e de enormes desigualdades sociais. Exemplo disso é o
clientelismo que possibilita a compra e venda de votos por meio de promessa e
fornecimento de material de construção, marcação de consultas, exames,
cirurgias, cestas básicas, patrocínio de festas, material esportivo para
jovens, promessa de empregos, dinheiro em espécie e outros.
Trabalhar por eleições cidadãs é dever das autoridades eleitorais,
mas também de toda a sociedade civil, especialmente das entidades e
organizações que têm responsabilidade com a construção de uma sociedade justa,
solidária e fraterna.
Aracaju,
20 de agosto de 2024
Memória de São Bernardo, Abade e Doutor da Igreja
Dom Josafá Menezes da Silva
Arcebispo Metropolitano de Aracaju
Dom Vitor Agnaldo de Menezes
Bispo Diocesano de Propriá
Dom José Genivaldo Garcia
Bispo Diocesano de Estância
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