A SEDE, A ÁGUA E A GANÂNCIA
Manoel Belarmino
Nos tempos mais
antigos, depois de cada longa estiagem no sertão, Zé Ganança carregava, no
lombo de suas burrinhas de cargas, barris de água do Rio São Francisco e saía
pelos sertões em busca de cacheiros viajantes perdidos e sedentos.
- Adeus, meu anjo!-
dizia ele para a esposa. Deus quer que eu saia agora a fazer negócios.
Dois, três dias
depois, encontrava sempre um viajante preste a morrer de sede.
-Água!- pedia o
viajante sedento.
- Que Deus te
proteja!
-Água, em nome de
Deus! Água!
-Quanto você quer,
meu irmão? Um barril custa muitos contos de reis.
Beirando a morte, o
viajante tentava ainda resistir argumentando que, no rio São Francisco, a água
era de graça.
-Isso é no rio! Na
cidade, você vende roupas. No sertão, eu vendo água. Na cidade, a minha esposa
paga o preço que você pede pelas roupas, mas aqui as suas roupas nada valem. No
sertão, ou paga o preço pela água, ou não beberá da minha água.
Evidentemente, o
negócio fazia-se e se faz sempre.
Zé Ganança, homem poderoso, dono do dinheiro, da política e dono da água e das estruturas do saneamento básico; o preço do acesso à água era por ele determinado. Se "água é vida", o tal de Zé Ganança também era dona até da vida das pessoas.
Zé Ganança, homem rico por assalto à mão desarmada.
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