POÇO REDONDO, A CAPITAL DO CANGAÇO, E SEUS LUGARES HISTÓRICOS - PARTE I
Manoel
Belarmino
No território do sertão do São Francisco, em Sergipe, está a cidade de Poço Redondo, a Capital do Cangaço. Poço Redondo é uma cidade pequena, pacata e acolhedora, como a maioria das cidades interioranas e nordestinas brasileiras. Aqui neste município está o coito mais importante da história do cangaço, no caso a Grota do Angico. Foi aqui também onde Lampião ficou acoitado por um demorado período, sendo morto pela volante na madrugada de 28 de julho de 1938.
No território do sertão do São Francisco, em Sergipe, está a cidade de Poço Redondo, a Capital do Cangaço. Poço Redondo é uma cidade pequena, pacata e acolhedora, como a maioria das cidades interioranas e nordestinas brasileiras. Aqui neste município está o coito mais importante da história do cangaço, no caso a Grota do Angico. Foi aqui também onde Lampião ficou acoitado por um demorado período, sendo morto pela volante na madrugada de 28 de julho de 1938.
Neste texto trataremos de penas alguns lugares e pontos históricos de Poço Redondo, pois se fossemos citar todos teríamos que digitar centenas e centenas de páginas, quiçá milhares. Mas então vejamos:
NA CIDADE DE POÇO REDONDO
01 - Praça Lampião
A Praça Lampião é uma estrutura arquitetonicamente simples, “com dois chapéus de cangaceiros forjados em ferro fazendo menção ao cangaço”. Está localizado na Rodovia Estadual 230, conhecida como Rota do Sertão, no centro da cidade.
02 – Praça Antônio Conselheiro
Nem precisa escrever detalhes, pois sabemos que Antônio Conselheiro esteve aqui em onde hoje é Poço Redondo, passando por Curralinho. E nada mais justa essa homenagem.
03 – Praça Frei Damião
Também nem precisa detalhar, todos sabemos da importância do Frei Damião para a religiosidade do povo de Poço Redondo. E que o Frei Damião esteve em Poço Redondo.
02 - Memorial Alcino Alves Costa
A Casa de Alcino. Após a morte do ex-prefeito, compositor, escritor, poeta e historiador Alcino Alves Costa, o seu filho Rangel Alves da Costa assumiu o comando dos feitos culturais do mestre Alcino cuidado do Memorial, que está localizado no centro da cidade de Poço Redondo com um acervo riquíssimo de peças da História de Poço Redondo, da História Cangaço e da cultura sertaneja. E tudo sobre Alcino.
03 – Capela de Santo Antônio de Poço Redondo.
A Capela de Santo Antônio de Poço Redondo está exatamente no Poço de Cima, onde nasceu Poço Redondo.
NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE POÇO REDONDO
01 - Maranduba
A fazenda Maranduba pertenceu, na época do Cangaço, aos Nicácio e Soares, família das cangaceiras Áurea ( companheira de Mané Moreno), as irmãs Adelaide (mulher de Criança) e Rosinha (mulher de Mariano). Foi na Maranduba onde aconteceu um dos maiores combates da história do Cangaço. É importante lembrar que a fazenda Maranduba está exatamente no Território de Maria do Rosário e os Nicácio e Soares são descendentes de Maria do Rosário I. Infelizmente a casa sede da Fazenda Maranduba dos Nicácio e Soares foi demolida. Perto do lugar onde havia a casa, existiu uma cruz de madeira, posta sobre uma cova funda onde foram sepultados os soldados da volante. Ainda estão lá as pias e os umbuzeiros. Maranduba é um lugar histórico, mas infelizmente está cercado de arame farpado por ser uma área privada. Devido à importância histórica altamente relevante esta área deveria ser tombada pelo poder público municipal, estadual ou federal.
O combate dos cangaceiros de lampião com a volante de Manoel Neto no Maranduba ficou historicamente conhecido como “O Fogo do Maranduba”.
02 – Grota do Angico
A “Grota do Angico”, local onde morreu Lampião, Maria Bonita e mais 09 cangaceiros, em 28 de julho de 1938 dista aproximadamente, cerca de 800 metros da margem do rio São Francisco, do lado sergipano, no Município de Poço Redondo. Antes de chegar em Angico, primeiro se passa pela fazenda Logrador de Júlio Felix, uma das vias de acesso à Grota do Angico. Seguindo este acesso, chega-se à fazenda Angico, que pertenceu ao pai de Pedro de Cândido e a Durval, coiteiros de Lampião, homens de confiança dos cangaceiros e que vale ressaltar que foi Pedro de Cândido que dedurou Lampião para o tenente João Bezerra.
Onde havia a sede da fazenda Logrador, hoje, está construído o Monumento Natural Grota do Angico.
03 - Curralinho
Indo pela estrada de chão, com destino ao Povoado Curralinho, por onde também pisou Antônio Conselheiro, podemos encontrar os restos de duas cruzes, sinalizando que ali, segundo Alcino Alves Costa, duas vidas foram ceifadas pelos cangaceiros Corisco e Mané Moreno, tendo como vítimas os soldados da polícia militar de Sergipe, Antônio Vicente Cici.
Em Curralinho podemos encontrar um lugar naturalmente lindo, de paisagens arquitetônica e natural de belezas incríveis, às margens do Rio São Francisco. Pena que, provavelmente, com a construção da orla de Curralinho essa paisagem arquitetônica, cultural e natural, será radicalmente destruída. Curralinho é um sítio histórico e cultural de valor imensurável. Mas poderá, lamentavelmente, em nome de um “desenvolvimento” ser destruído e ignorado.
Em Curralinho esteve na sua passagem por esta região o Beato Antônio Conselheiro.
04 - Bonsucesso
O Povoado Bonsucesso, comunidade ribeirinha, situado às margens do rio São Francisco, onde também podemos encontrar um grande potencial turístico e cultural, a exemplo do grande casarão histórico de mais de um século de existência, as cercas de pedra, a religiosidade com a devoção a Nossa Senhora do Rosário e as canoas. Além da Ilha de Belmonte (o topônimo correto seria Ilha de Belo Monte) e a historia da grande canoa de tolda que naufragou ali em 1916.
05 – Serra da Guia
A comunidade quilombola da Serra da Guia, que tem como liderança Dona Zefa da Guia, é um dos quilombos mais importantes do Sertão do São Francisco. Além das riquezas culturais, religiosas e históricas, Serra da Guia possui em seu Território Quilombola uma rica diversidade biológica.
Serra da Guia também no tempo do cangaço teve vários filhos do quilombo participando do bando de Lampião.
Das localidades de Poço Redondo, a que mais deu cangaceiros para o Cangaço foi a comunidade Quilombola da Serra da Guia. Foram 10 cangaceiros que saíram dali.
Nomes dos cangaceiros filhos da Comunidade Quilombola da Serra da Guia: 01- Moeda (João de João Rosa); 02 - Alecrim (Zé Rosa); 03 - Sabonete (Manoel Rosa); 04 -Borboleta (João Rosa); 05 -Quina Quina (Jonas); 06 - Ponto Fino (José da Guia); 07 - Zumbi (Angelino); 08 - Cravo Rocho (Sarapião); 09 - Cajarana (Francisco, "Chico de Inácio"); e 10 - Azulão (Luís). A maioria destes são parentes, da mesma família, irmãos e primos. A maioria jovem. Todos remanescentes dos quilombos e nascidos na Serra da Guia.
Moeda e Alecrim, eram filhos de João Rosa da Guia, e foram mortos na chacina da Grota do Angico, quando é onde também morreram mais 10 cangaceiros, inclusive Lampião e Maria Bonita.
06 – Território de Maria do Rosário
Na formação do povo sertanejo, com a chegada aqui dos brancos e dos negros, na ocupação da região onde hoje está o município de Poço Redondo, surgiu um povo e que formou um território na caatinga com identidade própria, onde hoje estão as comunidades de Rancho Velho, Risada, Lagoa Cumprida, Volta da Caída, Maranduba e Sítio dos Soares. Formou-se ali uma comunidade com uma família numerosa, inicialmente liderada por uma mulher e índia de nome Maria do Rosário.
Maria do Rosário foi capturada "a dente de cachorro" como dizia minha avó. Batizou-se e casou-se na povoação de Ilha do Ouro, na celebração de Nossa Senhora do Rosário.
Logo Maria do Rosário passou a ser uma liderança forte e comandou os negros que ocupavam todo o território (de Areias à Risada e de Juazeiro a Lagoa da Vila). Passou a ser dona de muitas cabeças de gado e miúça (bode). O povo do Território de Maria do Rosário mantinha sempre uma boa relação com os quilombolas da Serra Negra e da Serra da Guia. Havia uma troca de produtos ou de uso das terras. Na Serra Negra se produzia mandioca, batata, fava, feijão de corda, e frutas, como caju e manga. No Território do Rancho Velho havia a vasta criação de gado e miúça.
Os Soares do Sítio, os Bertoldo e os Nicácio são descendentes de Maria do Rosário.
Infelizmente, não há quase nada ainda escrita sobre essa história bonita de Maria do Rosário e seu povo. “Os Caititu” do Sítio. Nossos estudantes e os descendentes sabem pouco sobre essa história. Estamos tentando recuperar e organizar algumas anotações e informações orais sobre Maria do Rosário.
Nosso desafio agora é sistematizar a História do Território de Maria do Rosário.
07 – Risada dos Emídio
Neste Poço Redondo de território imenso, grande é a quantidade de lugares, cada um com um topônimo, um nome diferente.
E lá no meio da caatinga está uma comunidade, um lugar, com um nome próprio que significa alegria. É a Risada. A Risada dos Emídio, dos Soares, de Maria do Rosário.
Um lugar com uma comunidade de pequenos criadores de gado e miuça nas margens do Riacho Jacaré. Os Emídio são descendentes da matriarca Maria do Rosário, e de grande prole. Um povo vaqueiro e catingueiro.
Os Emídio, homens e mulheres, apesar das secas, das dificuldades da caatinga e da dureza da vida, sempre foram e é um povo de sorriso farto, um povo alegre. Nos terceiros das casas das famílias dos Emídio, nas noites de lua, quando costumeiramente as famílias se reuniam o que se ouvia eram conversas animadas e recheadas de muitas risadas.
As pessoas de outras comunidades, ao perceber que aquele povo gostava de dar risadas alegres e divertidas, começaram a chamar aquele lugar de Risadas dos Emídio.
A Risada de Bernadina, A Risada de João e Antônio Emídio.
Ainda hoje os descendentes dos Emídio gostam de dar risadas alegres. E o lugar dos Emídio ainda é Risada. Risada, apesar de tudo, é um lugar sorriso.
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