MORREU MAGNÓLIA, A TRAVESTI QUE ESCRACHOU A BURGUESIA ARACAJUANA

Manoel Belarmino

Por volta das 21h30 de ontem, segunda-feira, dia 19, morreu Magnólia, a primeira travesti de Aracaju, aos 74 anos.

Depois de ser internada no Hospital de Urgência de Sergipe-HUSE, ela não resistiu e morreu devido a uma infecção generalizada provocada por problemas urinários.

Em nota, o Conselho Estadual de Promoção da Cidadania e Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, lembrou a importância de Magnólia para a resistência e respeito da comunidade LGBT, ainda, da sua força em uma época de forte conservadorismo.

“Foi pioneira no movimento de afirmação enquanto pessoa dissidente sexual e de gênero em uma época de pouca informação e muito conservadorismo, durante as décadas de 60 e 70 em Aracaju. Uma mulher à frente do seu tempo e que exalava mansidão, mas também ousadia”, disse.

O sepultamento aconteceu hoje, dia 20, no cemitério São João Batista, com a presença de amigos, familiares e admiradores.

Quer saber mais sobre Magnólia recomendo a leitura do texto “Magnólia, que escrachou a burguesia de Aracaju” de autoria do jornalista Ediberto de Souza, no site http://espacolivrenoticias.com.br/magnolia-o-travesti-que-escrachou-a-burguesia-de-aracaju/


Eis o texto na integra:

No final da década de 70, o Iate Clube de Aracaju só aceitava a fina flor da sociedade sergipana. Além do enorme salão nobre, a casa oferecia aos distintos sócios a Boate Saveiros, com música ao vivo da melhor qualidade. Um luxo exclusivo para quem tinha poder e muito dinheiro. Há histórias de novos ricos que, mesmo insistindo, não foram aceitos como sócios do Iate, clube localizado às margens do Rio Sergipe, na ainda não poluída Praia Formosa, zona sul de uma cidade com ares provincianos.

Para se ter uma ideia do preconceito reinante em Aracaju naquela época, durante o horário comercial as prostitutas dos cabarés famosos, como Alabama, Vaticano, Miramar, Xangai e Shell, não podiam circular pelas ruas do centro da capital. Na Praia de Atalaia, só as famílias frequentavam o lado sul, a partir de onde é hoje Hotel Beira Mar. Prostitutas e homossexuais assumidos – poucos à época – só podiam tomar banho de sol e mar na banda norte do balneário, na direção da Coroa do Meio. E ai daquela ou daquele que se aventurasse no “terreno proibido”.

Pois bem!

Empresário da moda e farrista dos melhores, Wilson do Gavetão, dono de importante loja de roupas no centro da capital, resolveu escrachar a burguesia.

Numa noite de gala, Wilson chegou à Saveiros de braços dados com Magnólia, a primeira travesti assumida de Aracaju. “Pra mim, a nossa entrada na boate foi coisa de cinema. Wilson no melhor terno e eu de peruca loira e linda, um vestido longo, vermelho brilhante e arrasando na maquiagem”, lembra Magnólia, hoje com 74 anos. Pense no buxixo… As dondocas subiram no salto alto, enquanto os homens queriam apunhalar Wilson com os olhos.

Magnólia, que passou quase toda a vida vendendo cuecas e meias masculinas nos mercados centrais de Aracaju, é quem conta o fim da história: “Lá pras tantas e muito dona de mim, cruzei as pernas de forma escandalosa e, com o braço apoiado na mesa, divinamente decorada, chamei o garçom, sem disfarçar a voz de homem: Luiz, me traga aí mais um uísque, porra! Foi um Deus nos acuda. Pararam a orquestra e nos ‘convidaram’ pra sair quase aos empurrões. No dia seguinte, a direção do Iate cancelou o título de sócio proprietário de Wilson. E ele nem ligou”, diz Magnólia, às gargalhadas.

Supimpa!

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